
Cyntia de Oliveira e Silva
* Artigo publicado no Caderno Vestibular do DC em 15-8-2012
Você já observou como é feito um tecido? São linhas que se entrelaçam e formam uma trama. Assim acontece com os textos, os quais são trançados e costurados por palavras. E será sobre a “costura textual” o assunto da nossa conversa de hoje.
A semelhança com o tecido não é casual. A palavra texto vem do termo em latim texere (construir, tecer). Em sua forma flexionada, textus também era usado como substantivo e significava ‘maneira de tecer’, ‘coisa tecida’ ou ‘estrutura’. Ao longo dos anos, a palavra adquiriu os sentidos de ‘tecelagem’, ‘estruturação de palavras’, ou ‘composição literária’.
Em nossas colunas, já abordamos as etapas que antecedem à escrita dos textos. Enfocamos como se dá o surgimento das ideias; chamamos a atenção para a importância da interpretação da proposta e comentamos sobre as expectativas dos avaliadores. Assim, após a definição do tema a ser abordado, é hora de planejar e costurar a redação. Para isso é fundamental ter em mente os seguintes aspectos: Para quem você escreve? Qual o objetivo do seu texto? Que ideias expressará para desenvolver e argumentar seu ponto de vista? Esses são alguns dos ingredientes com os quais você transformará o seu conhecimento acumulado em um texto claro que articule argumentos e estrutura, por meio de mecanismos de coerência e coesão.
As modalidades textuais não se apresentam de forma pura. Nesse sentido, além da dissertação, os vestibulares têm apresentado a possibilidade de que o candidato demonstre sua capacidade linguística por meio da narração, da carta argumentativa, da notícia, da crônica e do conto. Hoje, o nosso foco será a dissertação.
As formas dissertativas estão presentes em nosso dia a dia. São os discursos da publicidade, do jornalismo, da política, das aulas, dos conselhos dos amigos e das polêmicas para se saber qual o melhor time de futebol. Nesse tipo textual, os assuntos são apresentados, interpretados, discutidos e analisados por meio de exposições e argumentos.
No que diz respeito à estrutura, a dissertação deve possuir introdução, desenvolvimento e conclusão.
A introdução apresenta o assunto, é o ponto de partida e o pretexto para se começar a discussão. Numa situação de redação do vestibular, não se deve iniciar um texto em forma de resposta à pergunta feita na proposta; não se começa no meio do assunto, pressupondo que o leitor já saiba do que se trata; nem se empregam expressões próprias da linguagem oral, tais como: “bom”, “bem”, “veja bem”.
O desenvolvimento, por sua vez, é a parte na qual você deve entrar na questão anunciada na introdução, por meio de argumentos logicamente encadeados, buscando aprofundar e esclarecer o assunto. Assim, quando a argumentação é bem feita, o texto torna-se consistente produzindo a sensação de realidade e a impressão de verdade. São inúmeros os recursos linguísticos usados com a finalidade de convencer. Dentre eles podemos citar: argumento de autoridade; argumento baseado no consenso; argumento baseado em provas concretas; argumento com base no raciocínio lógico e argumento com base na competência linguística.
Já na conclusão, é interessante retomar o ponto inicial da sua redação, deixando claro que o texto está chegando ao fim. Procure reunir, de forma concisa, os principais pontos do desenvolvimento. Nada de argumentos novos. Capriche e busque encantar o leitor. Estabeleça uma relação com o título, que, geralmente, surge quando você chega ao final.
Para costurar a conclusão, empregue expressões tais como: diante do que foi exposto; a partir dessas considerações; diante desse quadro; em vista disso; tudo o que foi dito; esse quadro; assim; isso significa; dessa forma, entre outras.
Por fim, não se esqueça de fazer uma boa revisão para garantir que as linhas da costura da trama textual estejam bem amarradas.
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Conheça mais alguns termos que auxiliam o processo de costura textual. Eles são também conhecidos como operadores argumentativos:
- Para indicar continuação: afora isso; ainda; além disso; desse modo; do mesmo modo; por outro lado.
- Para se opor a uma tese: contudo; em compensação; entretanto; infelizmente; mas; no entanto.
- Para indicar a passagem do tempo: atualmente, concomitantemente; enquanto isso; imediatamente; logo após; ocasionalmente; posteriormente.
- Para indicar semelhança: conforme; de acordo com; igualmente; segundo.
- Para esclarecer: assim; daí; de fato; em virtude de; naturalmente; por isso.
- Para explicar: a saber; em outras palavras; então; ou seja; por exemplo; quer dizer.
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